segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Chumbo quente

Abriu a cortina, era noite, e todas as imagens de Exu gargalharam. Ninguém sabia daquilo, mesmo porque morava sozinho no sobrado abandonado. A chama da vela tremeu. Ele se arrepiou. Estava pronto. Saiu protegido pela capa da noite. O coração era uma pedra de gelo. Sabia o que tinha de fazer. Não podia adiar um minuto, senão seria enterrado pela culpa de não ter agido. Viu o carro do boy estacionado na casa de mais uma que enganava. Quando abriu a porta do motorista o soco inglês quebrou-lhe a mandíbula e ele desmaiou. Levou o corpo coberto de grifes para o sobrado. Escondeu o carro. Amarrou o sarado e tatuado. Vedou-lhe a boca e esperou acordar. Dois olhos arregalados de pavor. O maçarico derreteu o chumbo. Ele despejou devagar nos olhos abertos a força. O verde desapareceu. Ele então lembrou da filha usada, desprezada e humilhada. Pulsos cortados. Vida ceifada. Depois que deixou a encomenda na frente da casa dos pais dele, voltou a pé. Estava tranquilo. Subiu a escada de madeira. Entrou no seu quarto. Na frente do altar fez o sinal da cruz para todos os santos ali presentes. Dormiu como um anjo.

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