segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Barriga

Comia terra, tijolo, o que desse vontade. Era uma criança com cabeça grande, pernas finas e, obviamente, uma barriga que ia aumentando na medida em que o leque de alimentos não convencionais crescia. Um dia alguém fez uma foto dele. Pés descalços, caça curta, camisa de colarinho branca que só fechava no primeiro botão, perto do gogó. O resto abria espaço, feito uma cortina de teatro, para o espetáculo daquele bucho enorme ornamentado pelo umbigo que parecia pronto a explodir com o resto. Depositário de lombrigas, tomou remédio e melhorou. Então mostraram-lhe o retrato. Morreu de vergonha. Tirou-a da mão de quem fez a maldade e picotou-a ao máximo. Cinquenta anos depois, se arrependeu do gesto. Queria ver a imagem. Para comparar com o barrigão de hoje que se espalha feito uma ameba de banha.

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