quinta-feira, 2 de julho de 2015

Choro e fortuna

Olhou algo e começou a choramingar. A mãe não entendeu. Ele não parou. E apontou o dedo. Para a tv. Era um pudim. A mãe não sabia como reverter a situação. Tentou de tudo. Colocou-o no colo, fez cafuné, andou pela casa. Nada. Ele não berrava. Choramingava. Por algum motivo ela lhe deu dinheiro. Cédula dourada. Ele parou com o choro na hora. Pegou o papel e ficou olhando. Só largou quando dormiu de braços e mãos abertas no berço. Sem querer descobriu a fórmula. Tanto que a mãe guardava as notas mais novas para ele. E guardava depois numa caixinha que deixou perto do berço, depois no criado mudo ao lado da cabeceira da cama. Quando cresceu, antes de dormir, ele olhava a quantidade de dinheiro que tinha acumulado. Não gastava nada. Aperfeiçoou o choramingo. Desenvolveu uma técnica. Às vezes bastava fazer um olhar desconsolado para ganhar algo. Expandiu o universo de doadores. Adolescente já tinha mais dinheiro que o pai. Virou empresário. Arrancava tudo dos donos do poder. Milionário, não se divertia, não comprava nada que não revertesse em mais dinheiro. Não casou para não ter herdeiros. Tratava os empregados a pontapés. Achava que todos choravam pitangas para conseguir mais salário e benefícios. Morreu assim. Ninguém derramou uma única lágrima em sua lápide, de mármore cinza, cor que ele mais gostava - a cor de seu cofre.

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